"O fim do Direito é a paz; o meio de atingi-lo, a luta. O Direito não é uma simples idéia, é força viva. Por isso a justiça sustenta, em uma das mãos, a balança, com que pesa o Direito, enquanto na outra segura a espada, por meio da qual se defende. A espada sem a balança é a força bruta, a balança sem a espada é a impotência do Direito. Uma completa a outra. O verdadeiro Estado de Direito só pode existir quando a justiça bradir a espada com a mesma habilidade com que manipula a balança."

-- Rudolf Von Ihering

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terça-feira, 5 de março de 2013

Propaganda preconceituosa propagando o preconceito


Juliana Silva


Olá, voltamos este ano aos trabalhos com uma cena chocante.
Uma ação de marketing causou polêmica nas redes sociais e repercutiu na imprensa. Na Feira Internacional sobre cabelos que aconteceu em São Paulo, a Beauty Fair 2012, a marca Cadiveu fotografou os visitantes com uma peruca Black Power e uma placa com a frase: “Eu preciso de Cadiveu".
Usuários das redes sociais sentiram-se ofendidos com a campanha, classificada como de mau gosto e preconceituosa por tratar os cabelos crespos como mau a ser “curado”.
As criticas levaram a fundadora da empresa a postar uma mensagem de esclarecimento que piorou as polêmicas, pois ela tratou a ação com uma “brincadeira”. Ora, brincar com a imagem de uma etnia que por anos sofre de preconceito, sendo retratados como pessoas do cabelo ruim, sendo ridicularizados por usar seu cabelo natural, black power. Essas pessoas... Nós sofremos preconceito com este tipo de piada. Na rua, somos taxados como loucos por usar o cabelo natural e não alisar o “cabelo ruim”.
Por que o meu cabelo é ruim? Porque ele não segue seu padrão de embranquecimento social?
Isso não é uma singela brincadeira. É preconceito e nos atinge, sim!
Há diversos penteados blacks pelas ruas sendo ridicularizados e esse tipo de ação apoia e propaga a ridicularização e humilhação do cabelo negro. A identidade negra foi construída a partir da discriminação de uma sociedade que via o negro como desumanizado, como mercadoria, como inferior, como feio. O corpo do negro, então, recebeu denominações que o menospreza: se o branco tinha cabeça, cabelo, lábios, nariz e pele, o cidadão afro tinha carapina, pixaim, beiço, venta, o que resultou em uma imagem distorcida que humilha e ridiculariza o negro.
Segundo Nelson Inocêncio, “na cultura visual brasileira, o corpo negro aparece como a antítese do que se imagina como normal. É um corpo cuja representação está associada ao que há de mais caricato, como se ele existisse justamente para demonstrar o contrário do humano. O corpo negro amedronta, porque a ele foi atribuída uma noção de força que se sobrepõe ao intelecto. Esse mesmo corpo provoca risos porque sua leitura está vinculada a comparações que o animalizam”.
Considerando essa realidade, como podemos esperar que o negro se aceite, se identifique, e valorize suas características estéticas? É necessária uma desconstrução dessa imagem, possível através de uma educação que promova a divulgação e discussão de uma ancestralidade africana, que vê o belo exatamente nessas formas que são inaceitáveis na estética brasileira: o cabelo crespo, os lábios grossos, o nariz largo, a pele escura, devem ser vistos como diferentes, como mais uma etnia que compõe o povo brasileiro, mas não como inferiores. O cabelo representa resistência, demonstra nossa cultura e não deve ser ridicularizado.
Ações como a dessa marca denigrem a imagem do negro, ridiculariza, destrói a autoestima de toda uma etnia, uma cultura. Não precisamos disso! Precisamos de afirmação identitária e cultural. Repudiamos ações discriminatórias e vexatórias como essas.
Obrigada pelo seu acesso. Axé!