"A INJUSTIÇA QUEIMA A ALMA E PERECE A CARNE!"
UMA NAÇÃO QUE CLAMA! Estamos na luta pela liberdade dos parentes Assurini que ainda permanecem presos! Quem poder compartilhar agradecemos. Eis o texto!
OS ASSURINI CLAMAM! LIBERTEM NOSSO POVO!!
Os povos indígenas desde tempos passados vem lutando por sua liberdade. Somos livres como um pássaro que pousa aonde quer e bate as asas em direção ao céu. Mas de nós nos foi tirado essa liberdade com o contato pelo não-indígena. Mudaram nossos costumes, escravizaram nossos pais, arrancaram nossa terra. Hoje, reduzidos somos acusados, presos, trancados em uma cela. De libertos voltamos a ser cativos de leis que antes não existiam, nós os donos da terra.
Nessa luta de poder aonde um domina e o outro é dominado uma nação toda sofre. O Povo Assurini clama a liberdade de seus parentes que ainda permanecem presos há mais de 20 dias. A acusação que pesa sobre eles é a de facilitarem a extração ilegal de madeira de lei. O cacique e seu filho não conseguiram sua liberdade e a cada dia sofrem por estarem presos em uma cela em Marituba município pertencente ao Estado do Pará. Unidos aos Assurini estamos todos nós indígenas que vivemos na área urbana de Belém e os demais povos de outras etnias. Sozinhos somos vencidos facilmente, mas unidos teremos forças para resistir.
Segundo informações do filho do cacique que está em Belém vindo da aldeia, Aromoa conta que foi pedido que pagassem uma fiança de vinte mil reais, valor que a aldeia não possui para retirar os seus parentes da situação em que estão. Usando as palavras de Paulo Freire quando diz: “quem melhor que os oprimidos se encontrará preparado para entender o significado terrível de uma sociedade opressora? Quem sentirá melhor que eles os efeitos da opressão? E é essa liberdade que buscaremos pelo conhecimento e reconhecimento de lutarmos por ela. Liberdade para os Assurini é o que buscamos, somos parentes, sentimos a dor do outro, choramos com a nação por ver um cacique trancado feito animal de estimação porque somos por natureza UM ESPÍRITO LIVRE!
AINDA ESTAMOS NA LUTA! EM RIMAS E VERSOS PEDIMOS LIBERDADE PRA NAÇAO ASSURINI.
ESPÍRITO LIVRE
Como pássaro um dia fui,
Livre já me senti,
Minha lei era união,
Minha ordem proteger a nação.
Por isso lutava sem entender,
Porque me amarravam como animal,
Domesticando meu ser feito bicho de estimação.
Minha aldeia o progresso tomou,
Engenho de açúcar teria maior valor?
Expulso a bala a mata me acalmou,
Contei pra iawara o que vi com pavor.
Vestiram meu corpo com a moda da época,
Cobriram minha pele que desenhei e afinal,
Chegaram sem avisar e o genocídio foi fatal.
Castigos severos impuseram os cristãos,
Chamavam-se de amigos e irmãos,
Mas eu vi trazerem meu sangue nas mãos.
Chegou um novo tempo,
Continuo a lutar,
Nem na aldeia tenho paz pra descansar,
Conviver com meu povo na mata que é meu lar.
Dos olhos do "branco" a ganância parece pular,
Querendo nossa madeira a serra derrubar,
Na lei do branco foram nos incriminar.
Da aldeia pra cela o branco me fez chegar,
Será que não entendem que assim vou definhar,
Preso que nem passarinho
Me debatendo com vontade de voar.
Voltar pra aldeia lá sou mais útil pra lutar,
Aqui preso não sei se vou aguentar,
A tristeza desse crime que eu respondo
Pela denúncia que veio de lá.
Madeira de lei sabemos seu valor,
Cuidamos da terra e da mata sem agredir, com amor,
Mas a falta de sensibilidade vinda do opressor,
Me fez dormir na cela pela ordem de um "doutor".
Com meus 70 anos choro teu desamor.
Liberdade para os Assurini! Somos povo de valor.
Texto: Marcia Wayna Kambeba
Fotos: Aromoa Assurini.
Povo: Assurini.
Fotos: Aromoa Assurini.
Povo: Assurini.
SOLIDÃO
Por trás das grades,
O escuro da cela,
A dor da tristeza,
O frio da espera,
Retrato da dor,
Encarcerado feito fera.
Fera que agride,
O perigo se vê,
Será que sou bicho,
Por na mata viver?
Aonde estão meus ancestrais,
Venham em nosso socorro nos atender.
No rosto sereno,
Assustado feito um quati,
Não sei qual a acusação,
Apareçam os que me puseram aqui,
A ganância de ter, desse povo puxi.
Mantenho na mente,
A tranquilidade que vem de Tupã,
Na força de ser cacique
A resistência de ser nação,
Dessa forma não conseguiremos
Viver nesse mundo-cão,
Não esqueça que em teu ser,
Corre o sangue da minha nação.
Nação que há tempos
caminha na direção,
do grande lugar sagrado
abençoado solo, onde cresce a plantação,
alimento que retiro, sem agredir seu coração.
Mas meu ser foi ferido
Com a flecha da ambição,
Não deu para escapar,
A maldade só faz sangrar,
Enfraqueceu nossas forças,
Mas os parentes chegam pra ajudar.
Por isso temos em nossa essência
O amor que vem de gerações,
Nos passaram nossos pais
como elo de União,
Tratem bem uns aos outros
Para resistir, garantido a cultura
aos pequenos que vivem e aos que virão.
Precisamos viver livres,
E temos convicção,
Que não somos culpados,
Disso temos comprovação,
Um pedido a todos fazemos:
Nos tirem dessa prisão!
Voando livres como um gavião.
No céu da SOLIDÃO!
TEXTO: Márcia Wayna Kambeba
Fotos de: Márcia Wayna Kambeba e Aromoa
Ao povo: Assurini