Quarta-feira, 25 de Fevereiro de 2015
Por Fábio Lau
Foram 22 anos de espera para que o livro "Escravos Sociais e os Capitães do Mato" ficasse pronto e fosse aceito por uma editora. E neste início de 2015 finalmente o ex-policial militar Sérgio Cerqueira Borges conseguiu sua publicação. Não no Brasil, o que seria o óbvio. A única editora a aceitá-lo foi a Chiado, lá de Portugal, que já o colocou à venda no seu site e prepara também o lançamento do volume 2. Para quem pensa que o livro será um apanhado de documentos processuais quase ininteligíveis para leigos, um aviso: nomes, muitos nomes, e histórias, muitas histórias, aguardam o leitor de curiosidade aguçada. Saberá, por exemplo, como é estar na casa de Zico, o Galinho de Quintino, e ter problemas, ou ainda descobrirá que a quase extinção do automóvel fusca, tema recorrente nos anos 80/90, se deu não por obra e graça dos bugres e asas-delta. Mas por ação deliberada de um grupo de policiais. Prepare-se! Vem aí Sérgio Borges.
Quando convidei o ex-PM para nos conceder uma entrevista por telefone, em Conexão Jornalismo, lancei o alerta: "Não se prolongue nas respostas". Mas é impossível ouvir seus relatos e interrompê-los. Nomes vão surgindo, casos são desenterrados e as histórias voltam a se montar como em um quebra-cabeças. Borges, hoje advogado formado e escritor, revive tudo com a mesma energia e dor experimentada naquele final de inverno quando, a partir da Chacina de Vigário Geral, sua vida começou a mudar.
O Rio havia sofrido a Chacina da Candelária e nada mais parecia ser capaz de substituir a vergonha e a dor de uma sociedade que desprezava seus menores e os relegava ao abandono e morte. Bobagem. Um mês e meio após, um grupo de policiais invadiu Vigário Geral, às margens da Avenida Brasil, para comprovar aquilo que os mais sábios no estudo da polícia e suas histórias inconfessáveis diziam nos bastidores: "Policiais são capazes de tudo!"
Quando convidei o ex-PM para nos conceder uma entrevista por telefone, em Conexão Jornalismo, lancei o alerta: "Não se prolongue nas respostas". Mas é impossível ouvir seus relatos e interrompê-los. Nomes vão surgindo, casos são desenterrados e as histórias voltam a se montar como em um quebra-cabeças. Borges, hoje advogado formado e escritor, revive tudo com a mesma energia e dor experimentada naquele final de inverno quando, a partir da Chacina de Vigário Geral, sua vida começou a mudar.
Capa do livro que só foi publicado por editora de Portugal |
O Rio havia sofrido a Chacina da Candelária e nada mais parecia ser capaz de substituir a vergonha e a dor de uma sociedade que desprezava seus menores e os relegava ao abandono e morte. Bobagem. Um mês e meio após, um grupo de policiais invadiu Vigário Geral, às margens da Avenida Brasil, para comprovar aquilo que os mais sábios no estudo da polícia e suas histórias inconfessáveis diziam nos bastidores: "Policiais são capazes de tudo!"
O dia em que Sérgio Borges foi absolvido pelo Tribunal do Júri |
Foram mais de 30 homens armados que invadiram a favela naquela madrugada de 30 de agosto. Não queriam encontrar traficantes que, liderados por Flávio Negão, mataram quatro PMs na noite anterior na Praça Catolé do Rocha. Queriam, isso sim, barbarizar. Invadiram casas de evangélicos, bares e residências de trabalhadores. Chacinaram de forma cruel e covarde numa ação que tinha por objetivo chamuscar o governo Brizola, que defendia Direitos Humanos e o direito da inviolabilidade do lar extensivo ao morador da favela, e também uma demonstração de corpo para a criminalidade.
O crime, chocante, que reconduzia o Brasil às páginas dos jornais e TVs de todo o mundo, apresentando-o como um estado bárbaro, exigia uma resposta rápida. E foi nesta necessidade de rapidez que inocentes foram lançados à lista de culpados e muitos culpados acabaram poupados.
Borges relata o quanto sofreu na prisão ao ser acusado de delito do qual era inocente, e como foi conviver na cadeia com aqueles que de fato haviam participado.
Para comprar um exemplar clique aqui
Mas o prejuízo material e moral não se limitaria a ele: um filho foi assassinado por aqueles que temiam suas revelações de bastidores (as quais faz parcialmente neste primeiro livro) e ele próprio, sobrevivente de um atentado, tornou-se um deficiente físico por conta do tiro em uma perna.
A entrevista gravada, que você pode ouvir na íntegra CLICANDO AQUI, é um prenúncio de que muita polêmica virá por aí. Talvez por isso, nenhuma editora nacional tenha ousado publicar o documento. Se ele teme processo? É possível que sim. Afinal, teria sido esta uma das razões para, já um homem adulto, ter cursado o Direito
O jovem Sérgio Borges na época da chacina |
O crime, chocante, que reconduzia o Brasil às páginas dos jornais e TVs de todo o mundo, apresentando-o como um estado bárbaro, exigia uma resposta rápida. E foi nesta necessidade de rapidez que inocentes foram lançados à lista de culpados e muitos culpados acabaram poupados.
Borges relata o quanto sofreu na prisão ao ser acusado de delito do qual era inocente, e como foi conviver na cadeia com aqueles que de fato haviam participado.
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Mas o prejuízo material e moral não se limitaria a ele: um filho foi assassinado por aqueles que temiam suas revelações de bastidores (as quais faz parcialmente neste primeiro livro) e ele próprio, sobrevivente de um atentado, tornou-se um deficiente físico por conta do tiro em uma perna.
Levado num fusca para a prisão - carro que poderia ter sido extinto |
A entrevista gravada, que você pode ouvir na íntegra CLICANDO AQUI, é um prenúncio de que muita polêmica virá por aí. Talvez por isso, nenhuma editora nacional tenha ousado publicar o documento. Se ele teme processo? É possível que sim. Afinal, teria sido esta uma das razões para, já um homem adulto, ter cursado o Direito
Trecho do livro:
"...DISSE O GOVERNADOR BRIZOLA EM 1993: (Página 289)
"... Diante das monstruosas chacinas da Candelária e de Vigário Geral, não nos restou outra atitude senão reconhecermos que a imprensa internacional tinha motivos para escandalizar-se e questionar duramente o nosso País e suas classes dirigentes. Pois se tratou de uma matança selvagem, desapiedada e inconcebível, de crianças inocentes que até se encontravam dormindo.
"Os fatos, por si próprios, nos denunciavam a ação de grupos de extermínio paramilitares. A resposta de meu Governo e nossas autoridades, como se viu, foi rápida e eficaz. Aqueles assassinos estão todos na cadeia e entregues à Justiça. Vamos prosseguir, puxando o fio dessa meada, com a certeza de que iremos chegar a círculos importantes, que instigam a discriminação racial, a segregação, a repressão violenta e o extermínio, no fundo, para proteger seus insustentáveis privilégios. As investigações e a atuação do Ministério Público, desvendando aqueles crimes hediondos, provocaram reações mórbidas e desequilibradas de certas áreas e indivíduos - como os sivucas da vida - e alguns empresários como os do transporte de cargas, que chegaram a ponto de bloquear a Avenida Brasil para desviar as atenções, no dia em que se revelavam os nomes daqueles criminosos.
"Isto, sem nos referirmos a outros fatos estranhos que passaram a ocorrer: pedidos de intervenções e uma insistência de certos meios de comunicação em reclamar a presença do Exército, exagerando notícias sobre o aparecimento de armas de guerra nos morros, tudo com o claro propósito de inverter a situação e restaurar a ideologia da repressão e da matança...." (Brizola, há 20 anos, apontava autores da Chacina de Vigário Geral)..."
"O dia em que morri"
Por Fábio Lau
Era repórter de O Dia quando cheguei a Vigário Geral naquela manhã fria de 30 de agosto de 1993. A pauta: levantar tudo, absolutamente tudo quanto possível, do que estaria por trás do martírio de tanta gente e tantas famílias que vivenciaram de perto a maior chacina ocorrida no Rio até então.
Qual não foi a surpresa ao descobrir que em meio a tantos mortos um deles tinha exatamente meu nome e sobrenome. Sim. Havia entre eles alguém que, involuntariamente, me fizera morrer por algum momento. Fábio Lau fora alvejado por PMs na Praça Catolé do Rocha. Ele tinha 18. Eu, 28. Dez anos nos separavam. Apenas isso. A identidade foi confundida por muitos amigos que telefonavam para saber se (isso hoje soa engraçado) estava "tudo bem" comigo.
Vinte e dois anos depois posso afirmar que o Rio mudou pouco neste campo. Mas a esperança de vê-lo mudar mais e para melhor permanece.
Quinta-feira, 26 de Fevereiro de 2015
A quase extinção do fusca nos anos 80/90 seria obra de policiais corruptos, afirma ex-PM
Da Redação
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O "livro-bomba" do ex-PM Sérgio Cerqueira Borges, lançado esta semana e que revela detalhes sobre a chacina de Vigário Geral, quando 21 moradores da favela foram assassinados por policiais militares, traz uma outra informação que soa como inacreditável de tão ardilosa. Os populares fuscas, alvo preferencial de ladrões por muitos anos, eram roubados e transformados em viaturas policiais a mando de oficiais da PM.
A informação consta nas páginas 157 e 158 do livro "Escravos Sociais e Capitães do Mato", lançado pela editora portuguesa Chiado, e que pode ser comprado via internet (leia aqui).
Em entrevista a Conexão Jornalismo, Sérgio Borges explicou que nos anos 80/90 havia um discurso corrente no país que dava conta da provável extinção do modelo fusca. Ele seria o alvo preferencial de ladrões que os transformava em bugres e ultraleve. Outra parte iria para países vizinhos. Mas, segundo seu relato, policiais aproveitavam o fato de os carros adquiridos da Volkswagen não serem registrados no Detran, com o número do chassis, e então eram desmontados e vendidos.
A chamada "Joaninha" era desmontada |
Para substituir a frota nova recém adquirida, policiais, comandados por oficiais da PM, roubariam outros automóveis da mesma marca. Leia o relato constante no livro:
"NÃO PERDERAM TEMPO AO ATACAR OS PEÕES PARA DERROTAR O REI ADVERSÁRIO".
Na atividade policial, os anos trabalhados no setor de inteligência da PMERJ por muito tempo, na (P/2); compartilho fatos cujo emendarão o raciocínio do leitor, de fatos reais e investigações a pessoa do autor confiadas quando agente de informações do setor de inteligência da PMERJ, que explicam muitos mitos. Por exemplo: por que alguns dos comandantes da PMERJ, não queriam de forma alguma substituir os VW patrulhas "fusquinha"), por veículos mais modernos? Por quê?
Uma resposta simples, corrupção; estes fuscas não eram registrados no DETRAN, senão somente na própria PMERJ, o chassi era virgem então; uma característica deste veículo, o chassi é separado da carroceria, o que facilitava muito as adulterações. Como se acreditavam que os alarmantes furtos eroubos nos anos 80 e 90 de VW, fusquinha, tinham destinação a países vizinhos, se não para o motor a ser aproveitado em construção de ultraleves; haja ultraleves a escurecer os céus do "jovem" Estado do Rio de Janeiro!
Uma lenda urbana, em verdade estes veículos nas mãos de alguns oficiais mancomunados com outros integrantes de alguns batalhões e pessoas no próprio DETRAN; Oficiais e praças corruptos transformavam os furtados ou roubados em radiopatrulhas, licitas viaturas, cujo pelo desgaste pelo uso e a falta de manutenção proposital, tinham pouco tempo de vida útil e prematuramente eram descarregadas, indo ao ferro velho como sucata; a frota oficial; estes veículos como já mencionados, somente estavam registrados na PMERJ; tinham seus cadastros feitos no DETRAN, remarcados o chassi, portanto veículos novos, estes eram vendidos em agências estinadas a este fim; imagina uma frota de cerca de 600 veículos, por exemplo, diluído em frações aos batalhões, a frota da polícia, ao ser entregue a PMERJ e, por conseguinte aos batalhões; quantos furtos e roubos seriam feitos para substituir esta frota em parte por veículos furtados ou roubados?
Afinal quem fiscalizaria uma viatura da própria polícia na época, que na verdade era produto de furto ou roubo? Faz a história contada em livro de ficção, reproduzida no filme Tropa de Elite, acenar apenas a ponta do "ice Berg", naquela cena do sumiço de um motor, aprofundando a história real, esta é mais nebulosa.