"O fim do Direito é a paz; o meio de atingi-lo, a luta. O Direito não é uma simples idéia, é força viva. Por isso a justiça sustenta, em uma das mãos, a balança, com que pesa o Direito, enquanto na outra segura a espada, por meio da qual se defende. A espada sem a balança é a força bruta, a balança sem a espada é a impotência do Direito. Uma completa a outra. O verdadeiro Estado de Direito só pode existir quando a justiça bradir a espada com a mesma habilidade com que manipula a balança."

-- Rudolf Von Ihering

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sábado, 31 de outubro de 2015

Jornalismo policial - Ver TV

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O Ver TV desta sexta, 12, às 20h, debate sobre os programas de jornalismo policial que, muitas vezes, transformam a violência em espetáculo. Assaltos, homicídios, drogas, tiroteio. A cobertura policial ganha cada vez mais espaço na TV.


Brasil Urgente, apresentado por Datena, é o programa de maior audiência da Band . Cidade Alerta, do âncora Marcelo Rezende, é o carro-chefe da Record.  Na Bahia, o Observatório Mídia e Direitos Humanos aponta preconceito e baixaria nos programas policialescos e pede providências ao Ministério Público.

Os programas deste gênero reforçam o senso comum de que a solução para a violência é combatê-la com mais violência, que a polícia deve ser implacável com o "bandido".



Quais são os impactos da espetacularização da violência? Para responder a esta questão, Lalo Leal, apresentador do Ver TV, recebe o juíz da 1ª Vara da Infância e da Juventude de São Paulo, Egberto de Almeida Penido; o jornalista Carlos Amorim, com mais de 40 anos de experiência nas principais redes de televisão, fazendo jornalismo investigativo; e o psicólogo, mestre em Psicologia pela Universidade de São Paulo, Davi Mamblona Romão, autor da pesquisa "Jornalismo Policial: indústria cultural e violência".

"Nós matamos no Brasil muito mais do que se matou na guerra civil da Angola", diz Carlos Amorim. Segundo ele, os programas de violência vistos no interior do Brasil, e mesmo os das capitais brasileiras, muitas vezes são patrocinados pelos governos locais. "Temos que olhar isto com um certo cuidado, para não responsabilizar a pessoa física do apresentador e esquecer que aquilo lá é um negócio, baseado num lucro", sentencia.
"Só se mostra [na mídia], geralmente, uma parte da nossa realidade [a violência]. Muitas vezes a imprensa é o correio da má notícia", afirma o juíz Egberto de Almeida Penido, destacando também que existem estudos sérios que mostram que a violência vem diminuindo no mundo todo, apesar do recorte mostrar o contrário. "E a justiça restaurativa vem contribuindo muito, porque ela não trata o problema todo do crime como um problema simples, de uma responsabilização individual, mas coletiva, todos têm a sua parcela", completa ele.
Vivemos uma guerra não declarada? E a atuação da polícia? Segundo o psicólogo Davi Romão, o Brasil já recebeu recomendações da ONU para reestruturar a Polícia Militar em razção da violência. "Por que é que a violência policial não é vista como um problema? O que que está em jogo? Tudo bem matar bandido? Isto é inconstitucional, é criminoso, mas não é visto como um problema - o único problema é o crime cometido, mas nunca o crime cometido contra um criminoso ou contra o suspeito, o possível criminoso".
A violência existe na sociedade, ela tem um nexo histórico, econômico, social, mas para o  jornalista Carlos Amorim não se deve superestimar o papel da míida. "O fato de a televisão mostrar tantos crimes por dia não significa que se vá transformar o crime numa indústria", argumenta.


PARA PAULO SOUZA (COMITE DE SEGURANÇA PÚBLICA E DIREITOS HUMANOS AQUI NO RIO)

POLÍCIA, JORNALISMO E DIREITOS HUMANOS
NÃO É ESCOLHA DO JORNALISTA, NÃO DEVEMOS ACUSAR O PROFISSIONAL, O APRESENTADOR E SIM A EMISSORA, PATROCINADOR- NEGOCIO BASEADO NO LUCRO COM QUESTÕES MIDIÁTICAS- TEM QUE SER RENTÁVEIS;QUE PAPEL ESTÁ CUMPRINDO NO PROCESSO CIVILIZATÓRIO DA SOCIEDADE BRASILEIRA?
A mídia “da o argumento e poder para as pessoas, discurso fácil e dominante.”
Segundo o relato de um entrevistado ”se tivesse a forma de pautar o erro e apontar as efetivas saídas seria bacana para nós.”
A mídia visa a audiência e o lucro. Por isso, O que da audiência na TV?
Em primeiro lugar, evidenciar os erros do policial, sem dizer as causas, não apontando saídas.Em segundo lugar, cria historia de cinderela com arquétipo para ser visto como heróis e maquiando as VIOLAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS, as quais esses profissionais da SEGURANÇA PÚBLICA vêm sofrendo.
Com isso, deixa de pensar no coletivo para focar em algumas ações isoladas.Promove a imagem de alguns, a fim de dar visibilidade na política, e liderar os demais como massa de manobra.Dar gratificações para alguns em detrimento de outros.Os demais caem no conformismo e a sociedade deixa de questionar os graves problemas os quais afetam a segurança pública.
O policial não deve ser visto como: “coitado”, “herói”,” cinderela” ou qualquer outro tipo de arquétipo para ser reconhecido, apenas;como um competente profissional da Segurança Pública para Servir e Proteger.
https://www.youtube.com/watch?v=octjQq73de8
https://www.facebook.com/paulo.souza.165685

quarta-feira, 18 de março de 2015

SOS POLICIAIS - PEC 300 JÁ: AS INVESTIGAÇÕES ENVOLVENDO POLICIAIS MILITARES

AS INVESTIGAÇÕES ENVOLVENDO POLICIAIS MILITARES


Caso Chacina de Vigário Geral, Policiais Militares presos sem provas.

Caso Chacina da Candelária, Policiais Militares presos sem provas.

Caso Patrícia Acioli, Policiais Militares presos e condenados, alguns sem provas contra eles.

Caso Amarildo, Policiais Militares presos sem provas contra eles.

Nós poderíamos enumerar vários casos de menor repercussão na mídia onde Policiais Militares ficaram presos durante muito tempo e foram absolvidos ao final.

É muito fácil nos prender.

Isso precisa mudar.

Não temos nenhum interesse em defender quem pratica crimes, porém é preciso provar que os alegados crimes realmente foram praticados por quem está sendo acusado.

No Rio de Janeiro, o Ministério Público (MP) denunciou o ilustríssimo Secretário de Segurança Beltrame por improbidade administrativa e superfaturamento de contratos.

O MP quer que ele devolva mais de R$ 100 milhões aos cofres públicos e quer que ele perca o cargo de Delegado Federal.

Ele nem foi afastado de suas funções, pois nada ainda foi provado contra ele.

Se fosse um de nós, Policiais Militares, já tinha sido expulso.

No caso DG também as investigações estão muito obscuras.

Após tanto tempo estão tentando descobrir como a camisa que o DG usava não tem furo provocado por paf.

Lemos que estão insinuando que os Policiais Militares que localizaram o corpo, alteraram o local.

Perguntamos:

- Qual o interesse dos Policiais Militares em colocar uma camisa, caso ele estivesse sem camisa?

- Qual o interesse dos Policiais Militares em trocar a camisa, considerando a dinâmica dos fatos descrita pelos investigadores para a imprensa? 

Companheiros, só a nossa união pode mudar essa realidade.

Policiais Militares divulguem o nosso portal e votem na enquete para eleição do Comandante Geral.

domingo, 18 de janeiro de 2015

Dezenas de ‘Curumins’ são executados todos os dias no Brasil e ninguém lamenta.



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Não vou nem comentar a questão sentimental que envolveu e envolve os familiares e os amigos pessoais de Marcos Archer, o ‘Curumin’ como era conhecido no meio do voo livre, pois o que sempre pesará mais do que qualquer coisa para eles é o sentimento que nutriam e nutrem por Archer. ‘Curumin’, experiente piloto de asa delta sabia perfeitamente, pois era mais do que de conhecimento público em especial no meio de surfistas, bodyboarders e praticantes de voo livre que as leis e a repressão contra as drogas na Indonésia era extremamente severa podendo levar em caso de tráfico à pena de morte.
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Archer apostou, se desse certo teria faturado muito dinheiro, pois a cocaína na Indonésia, justamente por causa da repressão, tem um valor cerca de dez vezes maior do que custa nos EUA e quase cem vezes mais do valor no Brasil. ‘Deu ruim…’.
SURFING BOARDS
O golpe de se levar drogas ao país dentro de pranchas de surf e de estruturas de asas delta já tinha sido detectado pela polícia indonésia e não foram poucos os atletas, inclusive outro
brasileiro, presos traficando desta forma. 
Ninguém está falando de algum analfabeto,de algum dependente químico, de algum esfomeado desesperado, de algum desesperançado que por estes motivos, condições e circunstâncias teria sido levado ao tráfico de drogas.
Estamos falando de brasileiros que detinham conhecimento cultural bastante razoável e de graus de educação formal ou não que lhes permitia avaliar os atos que cometiam e refletir sobre suas consequencias. Não foi a Indonésia que errou ao executar um brasileiro. Foi um brasileiro que movido pela vontade de ganhar dinheiro rápido e facilmente optou por arriscar a própria vida nesta empreitada maldita. E pela opção errada perdeu a vida.
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Já aqui dentro de nossas fronteiras, muitas vezes pertinho de nós, outros ‘Curumins’ são mortos, em sua maioria negros, em sua maioria jovens, em sua maioria analfabetos, em sua maioria esmagadora pobres. São vítimas de penas de mortes decretadas pelos tribunais do tráfico, pelo tribunal do PCC, pelos tribunais das milícias, pelos tribunais dos grupos de extermínio e pelos tribunais dos maus policiais. Estes ‘Curumins’ brasileirinhos jamais tiveram uma atenção real de Ministros ou da Presidente da República. sempre foram tratados como um problema macro a ser resolvido em longas e intermináveis discussões no Congresso ou acena-se com soluções mágicas sempre através da criação de um ‘Comissão’ ( meu pai já dizia, quando o governo não quer resolver alguma coisa cria uma comissão…).
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Nunca houve o envolvimento pessoal da Presidente para saber ‘Onde Está Carelli?’ ( funcionário da Fiocruz – na foto -desaparecido, segundo se sabe, em uma operação policial desastrada), nunca houve uma ação ministerial para saber quem matou ‘Os Onze de Acari’ ( onze jovens que forma mortos em um sítio na Baixada depois de irem de Acari para passarem um final de semana).
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Na ‘Chacina de Vigário Geral’ até hoje há um policial militar, ex policial, que foi preso, investigado, julgado e inocentado e nunca foi readmitido na PM ou sequer indenizado, pois não foi reconhecido como um dos autores da chacina em nenhuma das instâncias. Sua vida e sua família atravessaram tragédias que ninguém em Brasília quis ou quer saber. Perguntem ao Sergio Broges, o Borjão, que ele conta esta história em detalhes… .
Fazer as gestões protocolares pela extradição e cumprimento de uma pena no Brasil é até compreensível pela questão humanitária relacionada à família pelo resultado final que seria e foi a execução por fuzilamento de Archer.

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Agora, tornar isto uma questão nacional é querer fazer média com sabe-se lá quem. Marcos Archer foi um traficante de cocaína, de grandes quantidades de cocaína, que levariam, caso ele tivesse tido êxito em entrar com a droga na Indonésia a desgraça e a morte à milhares de famílias indonésias, pois treze quilos de cocaína pura se transformam com facilidade em sessenta quilos de cocaína de excelente qualidade. E ponto.
O Brasil não atendeu a Itália no caso da extradição de Cesare Battisti, que havia, segundo a justiça italiana, extremamente transparente e democrática, matado um comerciante e deixou seu filho paraplégico (foto) em um assalto, ou ‘expropriação’, na Itália quando integrava as Brigadas Vermelhas.O Brasil não deporta estrangeiros condenados por tráfico de drogas até que eles cumpram suas penas, ainda que em seus países as condições carcerárias brasileiras sejam consideradas assemelhadas à decretação de uma pena de morte.
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Presidente Dilma, Srs. Ministros…vamos olhar os nossos ‘Curumins’. ‘Curumins’ como o menino de apenas onze anos que por falta de tutela do estado, tendo em vista que ele já havia sido apreendido portando material e armas do tráfico de drogas da comunidade em que vivia, entregue ao pai e voltado ao tráfico, onde inclusive, segundo a Polícia Civil, recebeu a alcunha de ‘Bebê Monstro’, foi levado, pois um menino de onze anos não tem condições mentais e de maturidade de optar por nada, a morrer pela mesma coisa que levou o ‘Curumin’ Archer à morte. O desejo do dinheiro rápido e fácil.

Enquanto o Brasil não colocar em prática programas como o da educação integral real, aliada à formação profissional técnica; não implantar programas de educação com relação às drogas que não sejam histericamente irreais ou até mesmo mentirosos e por isso carecem de credibilidade entre os jovens, estamos fadados a assistir todos os dias mais e mais ‘Curumins’ pobres, negros, analfabetos e dependentes de drogas ilegais serem executados sob nossa visão complacente e omissa.

sábado, 20 de dezembro de 2014

COMISSÃO DA VERDADE PARA MILITARES E MILITARES DO ESTADO CONTRA O ABUSO DE PODERES CONTRA SEUS INTEGRANTES.

MESA DE DEBATES 02 DE SETEMBRO DE 2014 - Comissão Especial de Defesa dos Militares da OAB.







Comissão Especial de Defesa dos Militares da OAB
Com: Cláudio Henrique dos Santos - Presidente da Comissão de Defesa do Militar da 24ª Subseção da OAB de Nilópolis/RJ

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

21 ANOS DE IMPUNIDADES E INJUSTIÇAS - CHACINA DE VIGÁRIO GERAL.

REPORTAGEM ESPECIAL

https://www.facebook.com/escritorsergiocborges





Sexta-feira, 29 de Agosto de 2014

Vigário Geral: 21 anos da chacina que matou 21

Por Fábio Lau e Douglas Mota
Foto de Mário Leite - Jornal O Dia - em 30 de agosto de 1993
Foto de Mário Leite - Jornal O Dia - em 30 de agosto de 1993

- Não me matem que eu sou trabalhador. Trabalho na gráfica ali fora - implorou Cleber, procurando no bolso a carteira de trabalho.
- Você vai morrer aqui mesmo - responderam.
- Pelo amor de Deus, moço, não me mate - insistiu o gráfico. Mataram.



Cleber Alves, 23 anos, ia para casa naquela madrugada de segunda-feira, 30 de agosto de 1993. Foi interceptado por um grupo de PMs de um total de trinta e tantos que invadiram Vigário Geral. Duas madrugadas antes, os traficantes daquela favela havia matado quatro PMs na Praça Catolé do Rocha. 



O conjunto de acontecimentos colocaria o Rio de Janeiro e o Brasil de joelhos diante de mais um processo por violação dos Direitos Humanos na OEA. Cleber seria o primeiro a morrer por aquele grupo que invadiu a favela, cortou linhas de telefones dos orelhões e a luz elétrica. Outras 20 mortes viriam em seguida. Oito delas sobre uma mesma família. Um núcleo evangélico na entrada da favela. Todos mortos. Todos inocentes.



Vinte e um anos depois Conexão Jornalismo encontrou alguns personagens que vivenciaram, cada um ao seu modo, aquele filme de horror. Pessoas do Judiciário, da Imprensa, da Polícia Militar, comunidade que lembra e revela que a ferida continua aberta. 



Prisões ocorreram. Algumas condenações. Muitas injustiças. Mas o fato é que aquela chacina, que já não é a maior tragédia deste perfil no Rio, insiste em não se colocar no passado. Ela teima em retornar a cada novo acontecimento violento que ocorre no Rio e no país.



O Fuzil AR 15























O Rio de Janeiro descobria, naquela chacina, um fuzil americano que era a versão civil do M16, arma de assalto usada dois anos antes na Guerra do Golfo. O fuzil foi usado pelo bando de Flávio Negão, que matou os quatro PMs da Praça Catolé do Rocha, e também foram usadas pelos invasores para eliminar moradores inocentes. 



A partir dali, O AR 15 ficaria conhecido como uma espécie de vírus incontrolável capaz de destruir famílias, lares, sonhos e acima de tudo um projeto de polícia humanitária. Um médico do Hospital Souza Aguiar, com o passar dos anos, foi reconhecido como o especialista em tratar ferimentos dos sobreviventes do AR. Quando sobreviviam. 





Depoimentos des pessoas que estiveram presentes na história que marcou o Rio





Mário Leite (fotógrafo de O Dia) - 

Mario Leite: difícil esquecer
Mario Leite: difícil esquecer  


Atravessando a passarela para se entrar em Vigário Geral, já dava prá sentir o clima de tragédia, como sempre acontece nesses casos; ainda mais naquele calor, silêncio total, seguindo pelas ruas e ruelas. Corpos pelo chão de terra, moscas, moradores passando e olhando com aqueles olhares aparentemente normais. Imagino que eu também devia estar com esse mesmo olhar, pois nessas matérias sempre acontece comigo uma espécie de transe, um estado mental no qual nada pode me afetar a ponto de passar mal.



Bombeiros começaram a carregar os corpos em direção à passarela, e aí já havia e expectativa da foto de todos os corpos juntos. O tamanho da tragédia visualmente falando. Não sei quanto tempo durou isso, mas não foi leve. Era a nítida noção do absurdo voltando à superfície.



Tudo pronto: uma multidão se posiciona em volta dos corpos e faço retrato de uma história sem fim. Grupos policiais rivais, cavalos - corredores, etc. Não sei se foi esclarecido alguma coisa ou temos que que ficar imaginando o mais provável.



Voltei lá em outra situação, para conhecer o Centro Cultural Waly Salomão do Afro-Reggae. Muito bom, muito vivo (Mario Leite, 21 anos depois, mora em São Paulo).





José Muiños Piñeiro - promotor de Justiça do III Tribunal do Júri -

Homenagem perene às vítimas
Homenagem perene às vítimas  


Era uma tarde de domingo, 29 de agosto, e eu estava no Riocentro com meus filhos na Bienal do Livro. A seleção brasileira de futebol estava jogando com a Bolívia, se não estou enganado, pelas eliminatórias da copa de 1994. Na ocasião eu era promotor de Justiça no II Tribunal do Júri e já estava a frente do caso da CHACINA da CANDELÁRIA, ocorrida no mês anterior e na qual morreram oito jovens, alguns ainda criança. Não poderia imaginar que uma nova chacina aconteceria ainda naquela noite e, pior, a ação penal também ficaria sob a minha responsabilidade e a de Maurício Assayag, meu colega no Tribunal. Foram duas tragédias, duas grandes barbáries que mancharam a cidade "maravilhosa" de sangue inocente. No caso de Vigário Geral, oito integrantes de uma família evangélica morreram covardemente assassinados dentro de casa. Sabia que as atenções dos meios de comunicação, da sociedade carioca, fluminense, brasileira e da comunidade internacional ficariam voltadas para a apuração judicial dos fatos. Foi assim por muitos anos. Todos os dias havia matéria nos jornais. A cobrança era quase insuportável. Ao mesmo tempo em que tinha a obrigação de fazer justiça, isto é, obter a condenação somente de quem era culpado, a preocupação em evitar uma impunidade me corroía o pensamento. Por muito tempo uma noite tranquila de sono foi algo inatingível, o que somente piorou quando foi descoberto um plano para matar um dos promotores do caso ou a própria juíza a frente dos trabalhos. Muitas falhas na investigação policial comprometiam um resultado justo. Apesar disso, consegui levar vários acusados aos julgamentos pelo júri. Fiquei responsável pelo primeiro julgamento de um dos quatro chacinadores da Candelária e do primeiro réu a ser julgado no caso da Chacina de Vigário Geral. Felizmente os jurados aceitaram a tese da acusação e obtive as condenações, respectivamente, a 300 anos e 449 anos de prisão. Com esses resultados comecei a me sentir um pouco mais leve, o stress começava a retroceder. Faz vinte e um anos que a Chacina de Vigário Geral aconteceu. Coincidentemente, foram 21 vítimas. A atuação no caso, não tenho dúvida, deu destaque a minha carreira e me alçou a grandes e novas responsabilidades, chegando, por duas vezes , a ser nomeado Procurador Geral de Justiça (o Chefe do Ministério Público) após indicação dos meus colegas, tendo recebido em ambas a maior votação. Importante, contudo, é ter a consciência de que procurei fazer a justiça e que se alcancei um bom resultado, devo à confiança que os familiares das vítimas da chacina mantiveram no meu trabalho, apoio fundamental nos momentos mais difíceis. O tempo passou, mas é importante sempre lembrar daquela tragédia social para que nunca seja ela esquecida, no mínimo em homenagem perene às vítimas.
(José Muiños Piñero hoje é desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro)




Fábio Lau - jornalista de O Dia

Homônimo inesperado
Homônimo inesperado   


Sim. Eu morri um pouquinho naquela chacina. Em meio aos 21 abatidos covardemente por policiais e milicianos havia um jovem com meu nome: Fábio Pinheiro Lau tinha 18 anos. Morreu ao lado de motocicletas na Praça Catolé do Rocha porque estava na hora errada e no lugar errado. Foram muitos tiros. Estive com o pai dele e, diante de homem sofrido e sem esperança no olhar, me vi diante de um espelho. Bastaria estar vivo e naquela hora e lugar para morrer atravessado por balas de fuzis naquela madrugada fria do inverno carioca. Foram dias e dias de cobertura incessante. Conheci o pai do Flávio Negão numa matéria dividida com o repórter Sérgio Torres, da Folha. Vinte e um anos depois muita coisa mudou na minha vida. E na cor do cabelo também. Mas nem tantas mudanças assim ocorreram em Vigário Geral. A comunidade segue sua sina: cercada por linha do trem, Linha Vermelha e Acari. O abandono de sempre e a precariedade da infraestrutura urbana. Assim como eu, Fábio Pinheiro Lau, meu xará, 21 anos depois, teria muita história para contar. Mas não se pode falar o mesmo da quele palco chamado Vigário Geral. 
(Fábio Lau hoje trabalha em seu próprio site de notícias, Conexão Jornalismo)



Iracilda Toledo - perdeu o marido, o ferroviário Alberto Toledo, na chacina.

Iracilda Toledo: netos deram luz a agosto
Iracilda Toledo: netos deram luz a agosto  


"Eu tinha ido à Igreja e deixei o Beto em casa com meu filho, Humberto. Eles foram ao bar comprar cigarro e acabaram assistindo ao jogo do Brasil com a Bolívia, que terminou em 2 a 0 e nos classificou para a Copa do Mundo. Meu marido ficou lá comemorando a vitória, mas Humberto, que tinha 12 anos, voltou para casa por ordem do pai. Tinha aula cedo no dia seguinte.



Nós fomos dormir até que por volta da meia-noite acordei com meu sogro batendo na janela e chamando o Beto. Expliquei que estava no bar comemorando por causa do jogo. Aflito, meu sogro respondeu que todos que estavam no bar tinham sido mortos. Não quis acreditar. Procurei por toda a comunidade, mas não o encontrei.



Uma hora da manhã, meu compadre teve coragem para entrar no bar. Identificou que Beto era um dos mortos. Ele tinha um cargo de confiança na Rede Ferroviária Federal, enquanto eu não trabalhava. Graças a Deus tenho uma família estruturada e consegui abrigo com meus pais e irmãos.



Saí do cidade, criei meus filhos no interior e só voltei porque começaram a cursar faculdade. A mais nova, que tinha 9 anos na época, fez Psicologia. Já Humberto, hoje com 33, Engenharia. Nenhum de nós esquece o ocorrido. Vão se passar cem anos e aquilo vai continuar na memória.



Apesar de tudo, o mês não ficou marcado negativamente na minha vida. Meus dois netos nasceram em agosto". (Iracilda mora no Rio, com seus dois filhos, trabalha, e ajuda a cuidar dos netos).



Sargento da PM Sérgio Borges, o Borjão - 

Sérgio Borges: perda de um filho
Sérgio Borges: perda de um filho  


"Você pode imaginar o que é uma pessoa inocente ser acusada da noite para o dia de um crime de repercussão internacional, baseada na palavra de um marginal da lei, Ivan Custódio? Sem culpa amarguei quatro anos no cárcere. Fui humilhado juntamente com minha família e sofro sequelas até hoje. Meu filho foi assassinado por conta deste caso. 




A Justiça foi feita a partir de investigação que fiz com outros policiais inocentes. Fizemos o mesmo na chacina da Candelária. O processo foi totalmente fraudulento e feito pela Polícia Militar, que não tem competência constitucional para investigação.



O Rio de Janeiro naquele momento ia sofrer uma intervenção federal. O Coronel Valmir Alves Brum*, almejando ocupar o lugar do Coronel Emir Laranjeira, aproveitou do episódio para alcançar o sucesso político. Ele acusou 23 policiais, hoje reconhecidamente inocentes pelo hoje desembargador Muiños Piñeiro, que era o promotor da época.



As investigações refletem duas palavras: impunidade e injustiça. Os culpados não foram presos e inocentes passaram quatro anos ou mais na prisão. Perdi meu filho, a saúde e 21 anos da minha vida.



Escrevo um livro contando toda a verdade, que será publicado quatro meses. O prefácio é do jornalista Carlos Nobre, que escreveu a obra "Mães de Acari", e a apresentação é do promotor que nos acusou e depois nos inocentou.



Com sede de vingança por causa da morte dos PMs, os matadores que foram a Vigário começaram a matar todos os que tinham o pré-nome ou o apelido que constavam naquela lista. A revanche não foi motivada pela morte do sargento Ailton, mas sim pelas dos colegas que o acompanharam. 



Tanto as vítimas e seus parentes, quanto os policiais inocentes, foram usados pelo sistema para uma manutenção de poder, como tem sido feito desde que o Brasil é Brasil. (Sérgio Borges Cerqueira hoje é escritor e advogado)




Personagens da história da Chacina:





Flávio Negão: sopa de siri no terreiro com jornalista
Flávio Negão: sopa de siri no terreiro com jornalista  





Flávio Pires da Silva, o Flávio Negão - traficante determinou a morte dos quatro PMs. Um deles, o PM Ailton, teria sequestrado e assassinado seu irmão. Morto pela polícia anos depois. "Alguns dias após chacina eu e o repórter Nilton Claudino nos encontramos com Flávio Negão. O traficante estava cercado por comparsas e falou sobre a execução dos PMs e a chacina. Dividimos duas horas de conversa e um prato fundo, de plástico, com sopa de siri" - Fábio Lau








Cristina Leonardo: atuação em Direitos Humanos
Cristina Leonardo: atuação em Direitos Humanos  


Cristina Leonardo - A advogada foi uma das mais atuantes profissionais na defesa dos Direitos Humanos nos casos de violência ocorridos no Rio de Janeiro na década de 90. Desaparecimento de menores, chacinas da Candelária, Vigário e violência contra a mulher. 





Valmir Brum: prisões e injustiças
Valmir Brum: prisões e injustiças  



Valmir Alves Brum* - O coronel da PM era um dos mais odiados policiais da corporação por conta da sua atividade repressora. Ajudou a prender muitos policiais violentos, mas protagonizou também casos flagrantes de injustiça contra acusados. Em um deles deteve o único soldado negro de uma unidade da PM porque o acusado do crime tinha o apelido de "Pelé". Virou sinônimo de xerife da PM na década de 90.




Zuenir Ventura: Cidade Partida permanece
Zuenir Ventura: Cidade Partida permanece  





Zuenir Ventura - jornalista do Jornal do Brasil, escreveu o livro Cidade Partida a partir da chacina. Participou de projetos que tentava unir um Rio de Janeiro dividido entre os ricos e pobres, a zona turística e a cidade de verdade. A Fábrica de Esperança, criada ao lado da favela para oferecer estudo e trabalho, fechou. 





Nilo Batista - O vice-governador e chefe de Polícia Civil enfrentava politicamente duas chacinas e pouco mais de um mês. Bom frasista, disse, ao desembarcar em meio a multidão em Vigário, que naquele momento havia sido quebrada a barreira entre polícia e bandidagem. O crime faria surgir um outro personagem, o pastor Caio Fábio, que se transformaria numa espécie de guru espiritual de Nilo Batista.















Lúcio Natalício - Repórter que estava responsável pela madrugada no Jornal O Dia, Natal foi o primeiro jornalista a chegar à comunidade e a se deparar com o quadro. Apurou nomes, motivos aparentes da chacina e localizou testemunhas. Pela manhã, quando as equipes chegaram à Vigário Geral, poucas informações restavam. Foi homenageado pelo seu empenho em momento tão difícil. Ele morreu no final do ano passado.






Homenagens




Acontece nesta sexta-feira (29) na favela de Vigário Geral uma homenagem aos mortos noa chacina. O culto Evangélico começa às 16h, em frente à Casa da Paz. Familiares das vítimas depositarão flores no local da tragédia.



Já em Cabo Frio, será exibido no Centro Cultural Carlos Scliar o documentário dirigido pelo cineasta Milton Alencar "Vigário Geral: Lembrar para não Esquecer". Logo após acontece um debate com o desembargador José Muiños Piñeiro Filho que, na época, atuou como um dos promotores de justiça e obteve no Tribunal do Júri a condenação do primeiro chacinador a 449 anos de prisão. Assista:





O rapper Marcelo D2 compôs uma canção em homenagem aos mortos no massacre: