Veterano, Moreno tomou um bronca igual a menino |
Por Davis Sena Filho Blog Palavra Livre
Há muitos anos, o jornalista Marcelo Migliaccio que, recentemente, foi diretor de redação do Jornal do Brasil, contou-me que quando ele trabalhou como editor de Cultura do jornal O Globo foi testemunha de um episódio humilhante e, para ele, surreal: a bronca que o chefe de redação de tal diário deu em um jornalista da Editoria de Cultura, que produzia muito, escrevia bem e tinha uma boa cultura. O trabalho do referido profissional era reconhecido por seus colegas.
A bronca, segundo Migliaccio, foi ouvida por todo mundo que estivesse perto ou até mesmo longe, porque o “chefão” da hora resolveu dar aquela reprimenda em seu colega hierarquicamente abaixo dele, de tal forma que a redação ficou em um silêncio abissal ao tempo tão constrangedor que se tornou algo terminantemente avassalador em seu barulho surdo e irado — o verdadeiro silêncio que se transforma em trovão.
Atento à história, perguntei ao Marcelo como o jornalista humilhado reagiu. Ele respondeu: “Aí, fulano, obrigado pelo toque”. Dessa maneira pusilânime que o agredido reagiu. Não o culpo. Ninguém é obrigado a brigar com seu chefe e depois perder o emprego. Nem todos tem a alma livre. Compreendo também que as pessoas são frágeis, tem medo e problemas financeiros, pessoais, e por causa disso muitas vezes se submetem ao vexame, à covardia e à pusilanimidade. Acontecimentos terríveis como esses são comuns, não somente na área do jornalismo, bem como em quase todas os setores de atividade humana.
Contudo, ressalto que nem todas as pessoas se submetem a um ditadorzinho de redação pago para supervisionar seus colegas de profissão, muitos deles, inclusive, mais talentosos do que seus chefetes de momento, mas que, por sua vez, tem o “raro” talento para bajular, dedurar, repreender, perseguir, humilhar e demitir, porque o que interessa para ele é cumprir as ordens de seu patrão, que, geralmente, tal profissional (sem generalizar) o considera, inadvertidamente, como seu colega de profissão.
O jornalista Mino Carta disse uma vez: “o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega”. Surreal, porque jornalistas são trabalhadores e são demitidos conforme o interesse da empresa, do patrão e do chefe da hora, que, não raramente, considera-se superior a seus colegas, inclusive, quando se mostra mal educado, pois mordido pela mosca azul, não os cumprimenta, demonstra impaciência e ar de superioridade. Eu sou testemunha ocular dessas "crises" de vaidade e boçalidade explícitas.
A minha sorte é que nunca, ninguém, no tempo em que trabalhei na imprensa comercial e privada (privada nos dois sentidos, tá?) deu-me uma reprimenda como a que aconteceu com o jornalista de Cultura de O Globo, de acordo como me contou o meu amigo Marcelo Migliaccio. Por sua vez, as duas vezes que considerei que não estava a ser bem tratado, pedi demissão, antes que o caldo entornasse. Faço saber, para não haver dúvidas, que ninguém gritou comigo como ocorrera com outros colegas no decorrer do tempo em que trabalhei em redações de jornais, como, por exemplo, o Correio Braziliense, considerado o quarto jornal mais poderoso do País.
Seleme é severo, e ai de quem ser contra seu patrão |
Todavia, como afirmei antes, ninguém é obrigado a pedir demissão ou bater boca com seu chefe. Tem gente que aguenta ser “imolado”. Entretanto, há diferença entre ser imolado ou ser questionado, chamado para conversar sobre algum equívoco ou erro profissional ou de comportamento.
O chefe sábio age assim e com isso ganha respeito e consideração, além de ser admirado e, por conseguinte, conquistar a lealdade e o empenho no trabalho dos que são seus subordinados, que, evidentemente, não tem acesso ao patrão, razão de ser de muitos chefetes e chefes de redação, que não compreendem o que é o corpo dos funcionários que, inclusive, conserva o seu emprego e não o servilismo que depõe contra a dignidade humana. Quero dizer que ser servil é uma coisa e ser disciplinado é outra. A vida requer disciplina; porém, a maioria dos chefes e chefetes de redações se confunde com esse processo de conduta em vida.
Estou a escrever este artigo sobre como são, a meu ver, as redações porque soube que o conhecido jornalista de O Globo, Jorge Bastos Moreno, titular do blog Rádio Moreno e da coluna Nhennhennhém recebeu aquela “substancial” reprimenda, ou seja, repreensão, bronca, carão, esporro do chefão-mor do jornal da família Marinho, que atende pelo nome de Ascânio Seleme. O motivo da ira é que o colaborador do blog Rádio Moreno, Théofilo Silva, publicou texto que questiona o suposto envolvimento de um dos principais editores-chefes da revista Veja, Policarpo Jr., com o poderoso chefe de quadrilha, como considera a Polícia Federal, o bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Por esse motivo, o blogueiro e colunista Jorge Bastos Moreno (já um senhor de idade) tomou uma retumbante bronca do chefão A. Seleme. O carão foi um estrondo de um raio que divide uma gigantesca árvore ao meio. O jornalista Moreno reconhece em seu blog que recebeu “uma grave e merecida advertência do diretor de redação”. A nota de Jorge Bastos Moreno é um pedido de desculpas, no qual reconhece que o editor de Veja foi atingido “levianamente”, apesar de ter sido gravado mais de duzentas vezes a falar com o chefe de quadrilha Carlinhos Cachoeira. Seria cômico se não fosse trágico. O corporativismo de certos jornalistas atinge as raias da insensatez e da leviandade.
Moreno, jornalista veterano, homem de idade madura, deveria se olhar no espelho e perceber que nesta altura do campeonato da vida dele não poderia mais passar por isso, por essa humilhação. O episódio contado por Marcelo Migliaccio há muitos anos, há cerca de 20 anos, é indubitavelmente atual. O jornalista de Cultura que foi humilhado naquela ocasião era um quase iniciante, apesar de promissor, segundo seus colegas. Jorge Bastos Moreno tem idade, e, a meu ver, se ele não tem coragem de questionar a atitude do chefão Seleme, que ao menos ele se questione ao se olhar no espelho e perceber que, apesar dos cabelos brancos, a idade não é sinônimo de coragem e muito menos de independência pessoal e de pensamento.
A retratação chamada de “pedido de desculpas” de Jorge Bastos Moreno ao editor de Veja, Policarpo Jr. aquele que foi gravado mais de duzentas vezes a falar com o chefe de quadrilha Carlinhos Cachoeira, segundo a PF, é o exemplo inconstestável de que as empresas de comunicação comerciais e hegemônicas somente toleram a liberdade de expessão e de imprensa para os interesses delas. A verdade é que o Globo pediu desculpas à Veja (Abril), em termos corporativos e institucionais, afinal as duas empresas são parceiras no combate aos governos trabalhistas de Lula e Dilma, são aliadas dos tucanos de São Paulo e não podem aceitar que sejam publicadas matérias contrárias à ditadura do pensamento único implementada neste País desde 1964. Presidenta Dilma, cadê o projeto do Franklin Martins que regulamenta o setor midiático e cria o marco regulatório no Brasil, conforme reza a Constituição?
Obs: Desconfia-se que o Mensalão foi deflagrado por Cachoeira, Demóstenes e a Veja, por meio das mãos de Policarpo Jr. A intenção era derrubar o Governo Lula. As investigações estão ainda na ponta do iceberg.
Veja as "desculpas".