Rio - Poucas horas depois de ser solto, o comandante do 7º BPM (São Gonçalo), tenente-coronel Djalma Beltrami, disse que é inocente das acusações de envolvimento em um esquema de corrupção dentro do batalhão. Beltrami foi solto nesta madrugada após conseguir um habeas corpus através do plantão judiciário. Ele deixou o Quartel-General da PM com a mulher.
"Não posso responder pelo que os outros sabem ou falam de mim. Sempre atuei de forma integrada com a Polícia Civil e todos os delegados com quem trabalhei sabem disso. Se há provas, que se mostrem, mas eu duvido que tenham provas contra mim", afirmou.
Coronel Djalma Beltrami é solto e diz ser inocente das acusações de envolvimento em esquema de corrupção | Foto: Marcelo Regua / Agência O Dia
Beltrami também negou o recebimento de propinas para não combater o tráfico na região do 7º BPM (São Gonçalo). "Nunca recebi propinas. Meus 27 anos de história na polícia dão um resultado", falou, referindo-se à sua conduta na PM. "Meu trabalho à frente do 7º BPM era operacional. Moro de aluguel na Baixada Fluminense e tenho um carro, minha esposa tem outro e só", contou.
O coronel descreveu os momentos que passou na prisão, desde segunda-feira, como os piores de sua vida e disse estar grato à Justiça, que autorizou a sua soltura. "Confio no que faço. Tenho minha vida limpa. Visto a farda e estou de cabeça erguida", falou.
Sobre seu futuro à frente do 7º BPM, ele explicou que vai esperar as ordens de seus superiores. "Cumpro as determinações do comandante-geral", referindo-se ao coronel Erir Ribeiro Filho.
A decisão de libertar Beltrami foi do desembargador Paulo Rangel, do Plantão Judiciário do Tribunal de Justiça, que afirmou: "Estão brincando de investigar. Só que esta brincadeira recai, no direito penal, nas costas de um homem que, até então, é sério, tem histórico na polícia de bons trabalhos prestados e vive honestamente".
Paulo Rangel ainda escreveu: "É lamentável que um fato como este esteja acontecendo, em especial com a aquiescência do Poder Judiciário, pois se trata de prisão temporária decretada pelo juízo de São Pedro da Aldeia que sem observar o teor das transcrições da interceptação telefônica decretou a prisão de um Comandante da Polícia Militar da estirpe do Cel. Djama Beltrami, se deixando levar pela maldade da autoridade policial que entendeu que 'zero um' só pode ser o Comandante do 7º Batalhão".
O desembargador também comenta a decisão do juiz que decretou a prisão. "Mas aqui tenho que reconhecer: esta prisão não foi em flagrante e sim por ordem de um magius que não atentou para um fato óbvio: quem é “zero um”? O juiz é responsável também e aqui foi irresponsável ao prender o Comandante de um Batalhão, até então, inocente. Talvez seja o estigma que recai sobre o 7º BPM. Não é isso que se espera do Judiciário e não posso aplaudir esta decisão contra o paciente".
O desembargador acolheu pedido de relaxamento da prisão da defensora pública Claudia Taranto. A decisão acontece dois dias após a detenção de Beltrami e outros 10 policiais na Operação Dezembro Negro.
Operação Dezembro Negro
Segundo investigações, traficantes do Morro da Coruja, em São Gonçalo, pagariam propina de R$ 160 mil ao oficial e policiais do Grupamento de Ações Táticas (GAT) do quartel para não reprimir a venda de drogas na comunidade. A prisão do coronel Beltrami gerou divergência entre as polícias Civil e Militar. Enquanto agentes da Delegacia de Homicídios de Niterói afirmam que o oficial estava envolvido no esquema de pagamento de propinas, dois ex-comandantes da PM defenderam o policial e afirmaram que a prisão foi arbitrária.
Mais cedo, eles visitaram Beltrami, no Quartel-General da PM. Os ex-comandantes Mário Sérgio Duarte e Ubiratan Angelo, além do presidente da Associação dos Militares Estaduais (AME), coronel Fernando Belo, criticaram a prisão. “Beltrami é disciplinador. Ver um oficial com esse perfil ser preso com argumentos que têm a consistência de uma bolha de sabão indigna”, criticou Mário Sérgio. O deputado estadual Flávio Bolsonaro também havia visitado o policial e afirmou que a Comissão de Segurança da Assembleia Legislativa, da qual é vice-presidente, vai pedir à Polícia Civil informações sobre o caso. “Tudo indica que alguém pode ter usado o nome dele para valorizar a propina”, disse Bolsonaro.
O delegado Alan Luxardo não comentou o caso nesta terça-feira. Na segunda, ele afirmou que teria provas do envolvimento do oficial. “Temos provas de que o esquema acontecia após a gestão dele (Djalma Beltrami). Ele negou, mas temos material bastante contundente sobre o esquema”.
Abatimento na prisão
O coronel Beltrami passou o dia na prisão abatido e preocupado com a família. Às visitas, repetia que a mãe não iria aguentar a situação e que nunca recebeu dinheiro ilegal. Em alguns momentos, chorou e pediu para ver o filho, de 18 anos. “Ele está preocupado com o sofrimento que o filho está passando. Quer dizer pessoalmente ao garoto que é inocente”, contou Mário Sérgio.
Novos grampos, gravados em 10 de setembro e divulgados pelo site da revista ‘Veja’, mostram o suposto envolvimento do comandante. Gaguinho ameaça suspender o pagamento porque PM descumpriu acordo: “Anotei o número da sua viatura, vou mandar lá pro seu comandante maior, que ele leva 40 (mil) aí. Vai acabar o arrego por causa de tu”.
Colaboraram Adriana Cruz e Vania Cunha