Comandante disse que não usará a força para esvaziar quartel invadido.
Após discurso, clima voltou a ficar tenso na madrugada deste sábado.
Na tentativa de convencer os mais de 2 mil bombeiros a deixarem o Quartel Central do Corpo de Bombeiros, no Centro do Rio de Janeiro, o comandante-geral da Polícia Militar (PM), Mário Sérgio Duarte, afirmou na madrugada deste sábado (4), durante discurso aos manifestantes, que o momento é de reflexão. Mas após a fala do militar, o clima voltou a ficar tenso no complexo invadido.
Por volta das 2h50, Duarte subiu num carro e, diante dos manifestantes, pediu para que todos retornassem para casa. “É primeira vez que venho aqui numa situação inusitada. Sou apenas um homem diferente, mas eu tenho a força dos meus e quero ter a dos seus. Nós precisamos resolver esse dilema, embora isso não signifique rendição para ninguém. Tenho certeza que nenhum de nós vai usar a força. Gostaria que as senhoras e os senhores refletissem. A minha proposta é que retornem para suas casas”, disse o comandante.
Durante a fala que durou cerca de 20 minutos, o comandante foi interrompido por gritos e cantos dos manifestantes, que repetiam: “nem um passo daremos atrás”.
Diante da resistência, o comandante ressaltou que não pretende usar a força e afirmou estar diante do melhor Corpo de Bombeiros do Brasil. “Mais uma vez peço vocês sentem e conversem sobre isso. Nesse momento eu preciso ver o meu coronel ferido e enterrar um outro, vítima de ‘saidinha’ de banco. Tenho certeza que vocês aqui não tinham a intenção de quebrar a mão do meu coronel, que também teve o joelho lesionado. Eu não estou propondo derrotados nem vitoriosos”, completou Duarte.
Em seguida, o cabo Benevenuto Daciolo, porta-voz do movimento, elogiou a iniciativa do comandante da PM. Mas ele disse que quer a presença do governador Sérgio Cabral ou do vice Luiz Fernando Pezão.
O porta-voz reafirmou que a manifestação é pacífica, mas disse há 50 homens armados entre eles. “Nós temos essa casa (quartel) como nosso lar. E enxergamos o comandante-geral como nosso pai. Mas nós temos que pagar aluguel, compras, remédios. Estamos há mais de dois meses tentando falar com as autoridades. Aqui tem mulheres, homens de bem e famílias inteiras. Por favor, coronel, não permita que o mal aconteça”, pediu Daciolo.
Logo após o comandante-geral da PM deixar o local, o clima, que era calmo, voltou a ficar tenso. Os militares sentaram no meio do pátio, de frente para a saída e esticaram mangueiras de água. Além disso, os manifestantes usaram caminhões como barricada, bloqueando as entradas do quartel. Alguns chegaram as esvaziar os pneus dos veículos.
Muitos policiais militares foram deslocados para a frente do quartel. Pelo menos 29 carros da PM também cercam o prédio. A área foi isolada e ninguém pode entrar ou sair do quartel, já que os acessos ao local foram bloqueados.
Há cerca de 150 policiais do Batalhão de Choque dentro e fora do quartel, além de policiais de outros batalhões e do Regimento de Polícia Montada (Rpmont).
Segundo os manifestantes, a invasão ao quartel central não foi planejada. Pouco após a invasão e depois de uma breve chuva que caiu no fim da noite, os manifestantes se reuniram no meio do pátio do quartel central e fizeram uma oração.
O cabo Benevenuto Daciolo disse que a categoria foi às ruas para reivindicar aumento de salário líquido de R$ 950 para R$ 2 mil, melhores condições de trabalho, além de vale-transporte.
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Os manifestantes estão com apitos e faixas no pátio do quartel central. Além de bombeiros da ativa, há funcionários aposentados, mulheres e até crianças. Segundo Daciolo, participam do protesto bombeiros de quartéis de todo o estado. Ele informou ainda que as praias devem amanhecer sem guarda-vidas neste sábado.
De acordo com Cláudio Lopes, procurador-geral de Justiça do Rio, o governo pode decretar a prisão dos manifestantes se considerar que houve insubordinação. "A Polícia Militar está diretamente subordinada ao governo do estado, ao governador, hierarquicamente. E pelo regulamento militar, o governador pode, sim, decretar a prisão administrativa daquelas pessoas que ele venha a entender que violaram a legislação militar, sem prejuízo - dependendo exatamente do que aconteceu - de isso constituir algum tipo de crime militar", explicou.
Mais cedo, a Secretaria estadual de Saúde e Defesa Civil afirmou que os manifestantes serão presos por invadir órgão público, agredir um coronel e desrespeitar o regulamento de conduta dos militares.
Mandados de prisão
Em maio, houve uma série de protestos da categoria por aumento de salário e melhores condições de trabalho. Cinco bombeiros chegaram a ter as prisões decretadas. No dia 17 de maio eles anunciaram o fim da greve. Na ocasião, segundo os manifestantes, durante uma reunião realizada na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) com integrantes do governo do estado foram pedidos a revogação da prisão dos bombeiros, o cancelamento das punições, transferências e inquéritos administrativos e judiciais e o abono das faltas.
Em maio, houve uma série de protestos da categoria por aumento de salário e melhores condições de trabalho. Cinco bombeiros chegaram a ter as prisões decretadas. No dia 17 de maio eles anunciaram o fim da greve. Na ocasião, segundo os manifestantes, durante uma reunião realizada na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) com integrantes do governo do estado foram pedidos a revogação da prisão dos bombeiros, o cancelamento das punições, transferências e inquéritos administrativos e judiciais e o abono das faltas.
Após invasão de quartel, Cabral troca comando do Corpo de Bombeiros
Bombeiros pedem aumento de salário. 439 manifestantes foram presos.
Governador do Rio chamou manifestantes de vândalos e irresponsáveis.
O governador do Rio, Sergio Cabral, anunciou neste sábado (4) uma troca no comando do Corpo de Bombeiros, após a invasão na sexta-feira (3) à noite do quartel Central da corporação por bombeiros manifestantes que pedem aumento de salário.
O coronel Sérgio Simões assume a corporação no lugar do coronel Pedro Machado. Simões era comandante da Defesa Civil do município. O motivo da substituição, segundo Cabral, foi descontrole hierárquico.
Em entrevista coletiva no início da tarde, Cabral disse que os bombeiros que invadiram o quartel são "vândalos, irresponsáveis, que não irão de forma alguma prejudicar a imagem de uma instituição tão respeitada e querida pelo povo do Rio de Janeiro."
Segundo Cabral, os bombeiros "têm recebido um apoio jamais visto nas últimas quatro décadas. Desde a existência do estado do Rio o Corpo de Bombeiros não vê o número de equipamentos, de condições de trabalho, que recebeu nos últimos 4 anos e 5 meses do nosso governo," garantiu.
"Foram eventos completamente inaceitáveis do ponto de vista do estado de direito democrático, do ponto de vista do que representa o respeito as instituições, sem falar na própria hierarquia nessa instituição tão querida pelo povo do Rio que é o Corpo de Bombeiros", continuou Cabral.
"Não há negociação com vândalos, eu não negocio com vândalos, eles responderão administrativa e criminalmente" pela invasão do quartel Central, garantiu o governador.
Carbal afirmou que há planos de aumento de salários já anunciados para os bombeiros. "Há um programa de incremento salarial aprovado na Alerj, de R$ 2 mil, esse grupo ao final do ano já está atendido. Se não é ideal é o melhor da historia da corporação."
Segundo Mário Sérgio Duarte, comandante-geral da PM, o uso da força não era interesse do governo. "Não nos interessava o uso da força, por isso tivemos uma extensa negociação. (...) Nossa preocupação era muito grande com crianças e mulheres. Aquele grupo dizia que iria reagir de toda forma possível a qualquer ação nossa, então havia um cuidado muito grande. Havia notícia que havia arma de fogo entre eles. A preocupação é de que alguns tivessem armas. Ouvimos alguns disparos na madrugada. Apreendemos um bombeiro com uma pistola. Tinham armas letais. Se essas armas foram levadas, vamos fazer apuração," disse.
Rotina normal
O Comando Geral do Corpo de Bombeiros garantiu no início da manhã que a rotina de atendimento à população do Rio está mantida, apesar das prisões dos bombeiros manifestantes.
O Comando Geral do Corpo de Bombeiros garantiu no início da manhã que a rotina de atendimento à população do Rio está mantida, apesar das prisões dos bombeiros manifestantes.
Os substitutos dos 439 bombeiros detidos já assumiram seus postos segundo nota da divulgada, e postos de salvamentos dos Grupamentos Marítimos, assim como quartéis, unidades de atendimento de urgências e emergências (SAMU/GSE) e serviços de socorro (combate a incêndios, salvamentos e desabamentos, etc) estão operando normalmente.
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Reivindicações
O Cabo Benevenuto Daciolo, porta-voz do movimento, explicou que entre as reivindicações estão piso salarial líquido no valor de R$ 2 mil e vale-transporte.
O Cabo Benevenuto Daciolo, porta-voz do movimento, explicou que entre as reivindicações estão piso salarial líquido no valor de R$ 2 mil e vale-transporte.
“Nós temos o pior salário da categoria no país, que é de R$ 950. Estamos há dois meses tentando negociar com o governo, mas até agora não obtivemos resposta. Nosso movimento é de paz e estamos em busca da dignidade. Não vamos recuar até que haja uma solução. Queremos um acordo, queremos que o governador se pronuncie”, disse o porta-voz.
O comandante do Batalhão de Choque, coronel Waldir Soares, sofreu fratura em uma das mãos e teve o joelho lesionado durante a invasão dos manifestantes. As informações foram confirmadas pela Polícia Militar (PM). Segundo a PM, ainda não há informações sobre quem seja o responsável pelas agressões.
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