Mas só parecia. Nesta quinta-feira, o jornal inglês publicou a seguinte correção a respeito da reportagem: “Aquele título não corresponde ao texto, que deixa claro que os órgãos não eram retirados apenas de palestinos. Foi um sério erro de edição, e o título foi alterado na edição online para refletir o texto escrito pelo repórter”.
A reportagem em questão dizia que, até os anos 90, um instituto médico-legal perto de Tel Aviv extraiu pele, córneas, válvulas cardíacas e ossos de cadáveres de soldados israelenses, cidadãos israelenses, palestinos e trabalhadores estrangeiros, frequentemente sem permissão dos parentes. Ou seja: as vítimas não eram apenas, ou não especificamente, palestinos. Portanto, o crime não era étnico, como o título dava a entender. A reportagem enfatizou ainda que não havia evidências de que os israelenses haviam matado palestinos para lhes retirar os órgãos, como acusara o jornal sueco.
A pergunta óbvia, diante disso, é: por que o jornalista que editou a reportagem optou por um título que mencionava somente os palestinos? Qual era sua intenção?
Há várias explicações possíveis, e incompetência profissional é somente a mais fácil delas. Mas o caso inspira uma reflexão um pouco menos rasa. É provável que o jornalista do Guardian tenha destacado os palestinos no título por causa do barulho produzido pelo jornal sueco. Era uma forma de relacionar as duas coisas, como a comprovar a acusação tão negada pelos israelenses.
E aqui entramos no segundo – e perverso – aspecto do episódio. O jornalista do Guardian parece não ter refletido sobre o texto que leu antes de escrever o título. Seu impulso imediato foi pensar num título que incriminasse Israel em relação aos palestinos. A razão disso é muito simples: incriminar Israel é muito mais fácil do que não incriminar.
Israel é um país muito malvisto, graças sobretudo a uma intensa propaganda negativa por parte de “humanistas” que, a título de defender os palestinos, na verdade exercem o mais tosco anti-semitismo, ao negar o direito de Israel de existir. Não importam os enormes avanços técnicos e científicos que a sociedade israelense produziu para o mundo todo; não importa o trabalho solidário de diversas entidades israelenses em relação aos árabes; não importam os esforços dos israelenses para tentar conviver com vizinhos que, se pudessem, já os teriam dizimado. Será sempre Israel o elemento criminoso da equação, uma entidade irremediável, um monstrengo que só produz sofrimento e desolação.
É por isso que foi tão fácil ao jornalista do Guardian “errar” em seu título. Para ele, como para muitos outros, tudo o que envolve Israel em relação aos palestinos está sempre eivado de crueldade, mesmo que não tenha relação com a realidade. É a força da ideologia, que comprova a resiliência brutal do anti-semitismo.
A admissão se tornou pública em uma entrevista com o ex-chefe do instituto ciência forense Abu Kabir, Dr. Jehuda Hiss, sábado último.
A pesquisadora acadêmica norte-americana, Nancy Scheper-Hughes, entrevistou Dr. Hiss em 2000, porém decidiu publicar o texto agora por causa da controvérsia que começou recentemente, quando um jornal sueco relatou que Israel estava matando palestinos para usar seus órgãos.
O relatório mostra que especialistas do instituto Abu Kabir recolheram pele, córneas, válvulas cardíacas e ossos de cadáveres de palestinos e trabalhadores estrangeiros, e eventualmente de israelenses, sem a permissão dos familiares.
Ela disse que Dr. Hiss lhe afirmou “que as pessoas que fizeram “a colheita” foram enviados pelos militares e muitas vezes eram estudantes de medicina”, e que “os órgãos foram tomadas e utilizados para atender às necessidades dos hospitais públicos e do exército de Israel”, e que os militares deram sua sanção e aprovação para os ” procedimentos”.
Partes da entrevista foram transmitidas em canal de TV de Israel durante o fim desta semana. Nela, Dr. Hiss disse: “Nós começamos recolhendo as córneas” …”E a pele ia para um banco de pele especial, fundado pelos militares, para as suas utilizações e para vítimas de queimaduras”. “O que fazíamos era muito informal. Não se pedia permissão para a família."
Durante a entrevista, Dr. Hiss descreveu como os médicos encobriam o fato de remover as córneas dos corpos: “Selávamos suas pálpebras”, ” e também não extraíamos as córneas nos casos de famílias que sabíamos que iriam abrir as pálpebras dos seus mortos - disse ele
Em 2004 o médico foi deposto como diretor do IML devido a irregularidades sobre o uso de órgãos, porém o secretário da Jusitça de Israel rejeitou as acusações contra ele e Hiss ainda trabalhava como chefe do instituto.
Autoridades israelenses chamaram o relatório de “anti--semita”.
“O Jornal Aftonbladet, um dos mais populares da Suécia, informou em 18 de agosto que soldados do exército de ocupação de Israel estavam matando jovens palestinos na Cisjordânia para extirpar-lhes os órgãos e vendê-los. A reportagem mostrava uma foto do corpo de uma vítima com um longa costura desde o pescoço até o abdomem.
A reportagem citou as palavras da família de uma das vítmas que afirmavam que “foram extirpados os órgãos dos nossos filhos”, e estabeleceu também uma relação entre o tráfico ilegal de órgãos e um escândalo de corrupção em Nova Jersey no qual esteve implicados altos cargos do governo israelense e rabinos.
O autor da matéria, Donald Bostrom, fala das fortes suspeitas que há entre os palestinos de que o exército de israel extirpou os órgãos do jovem e sugere que o Tribunal Internacional de Justiça da Haya deveria abrir uma investigação.
“Bostrom cita o testemunho de um palestino que descreve um caso no qual o exército de ocupação israelense matou com um disparo um jovem palestino de um povoado da Cisjordfania e depois lhe retirou os órgãos. A vítima palestina foi identificada como Bilal Ahmed Ghnyian. “Levaram-no em um helicóptero militar e o exército o devolveu cinco dias depois, morto. Quando sua família o enterrava, viu uma longa costura desde o estômago até o pescoço”.
Bostrom também cita outro testemunho de uma mãe que afirma que seus filhos foram utilizados como “doadores forçados de órgãos” .
“Sangrenta calúnia”
Porta-voz israelense e do ministério de Assuntos Exteriores rejeitaram a denúncia e lançaram pragas contra Aftonbladet; acusaram o jornal de “sangrenta calúnia” e de propagar “rumores” contra Israel.
O porta-voz israelense Yigal Palmor afirmou que o jornal sueco havia convertido “a demonização de Israel em um causa sagrada”.
Representantes do governo israelense ameaçaram denunciar o jornal sueco por calúnias e afirmaram que a reportagem era uma expressão de “anti-semitismo”.Diz mais o texto:
“Israel tem reagido com uma sensibilidade exagerada às críticas internacionais ao tratamento manifestadamente duro que infringe aos palestinos e o racismo descarado que se associa a este tratamento.
No início deste ano, seu exército empreendeu uma Blitz generalizada e mortífera contra a indefesa população de Gaza, no qual utilizou armas proibidas internacionalmente e matou, mutilou e carbonizou milhares de civis inocentes, incluindo centenas de crianças.
Organizações de direitos humanos descreveram esta descomunal devastação de terror e morte que durou mais de 20 dias como “claros crimes de guerra” e “crimes contra a humanidade”.
Igualmente, Israel tinha assassinado milhares de inocentes na Cisjordânia e muitas de suas vítimas foram enviadas ao instituto forense (IML) de Abu Kabir para que se lhes realizasse autópsia.
O exército israelense, que exerce uma enorme influência política e legal em Israel, quase sempre resiste que investiguem as operações que pratica na Cisjordânia, que se fazem violando de maneira flagrante o Direito Internacional, especialmente o direito humanitário internacional
Precedente
Em janeiro de 2002, um ministro israelense admitiu tacitamente que órgãos extirpados dos corpos das vítimas palestinas podiam ter sido utilizados para serem transplantados em pacientes judeus sem que o soubessem as famílias das vítimas palestinas.
Em resposta à pergunta de um membro árabe de Knesset (parlamento israelense), o ministro Nessim Dahan afirmou que não podia negar ou confirmar que o exército tivesse extirpado os órgãos de jovens e crianças palestinas para transplantes ou para investigação científica: “Não posso afirmar com segurança que não ocorria tal fato”.
Acredita-se que o membro árabe do Knesset que fez a pergunta a Dahan é Ahmed Teibi, o qual afirmou que tinha recebido “provas críveis” que demonstravam que médicos israelenses do instituto forense de Abu Kabir tinha extraído órgãos vitais como o coração, os rins e fígados dos corpos de jovens e crianças palestinas que tinham sido assassinadas pelo o exército israelense em Gaza e na Cisjordânia.
Em uma entrevista da televisão Al-Jazeera em 2002, o falecido dirigente palestino Yasser Arafat acusou o regime de apartheid israelense de assassinar bebês, crianças e jovens palestinos e de retirar-lhes seu órgãos para transplantes: “Assassinam nossas crianças e utilizam seus órgãos como peças de troca. Por quê cala o mundo inteiro? Israel se aproveita deste silêncio para intensificar sua opressão e terror contra nosso povo” , afirmou um cansado presidente Arafat.
Durante a entrevista, que ocorreu em 14 de janeiro de 2002, Arafat mostrou fotos dos corpos mutilados das crianças.
“Não estou preocupado por mim mesmo”, afirmou o presidente quando estava sob prisão domiciliar, “estou preocupado pelo povo palestino que está sob o assédio de Israel há quinze meses”.
Israel nunca levou a cabo uma investigação séria sobre este e outros incidentes relacionados com a extirpação de órgãos vitais dos corpos de vítimas palestinas assassinadas pelas suas forças de ocupação.
Segundo a jornalista Saira Soufan, a extirpação ilegal de órgãos de soldados e combatentes palestinos está documentada desde os anos noventa: “Uma vez que os corpos dos soldados (palestinos) eram devolvidos às famílias, se descobria o roubo de seu órgãos durante o processo de enterro. As cavidades vazias tinham sido preenchidas com lixo, mangueiras de jardinagem e pedaços de piaçava e depois costuradas como consequência da chamada “autópsia”. – denunciou.
De maneira esporádica, as autoridades israelenses tem também roubado os órgãos de turistas mortos em Israel. Um caso ao qual não se deu publicidade ocorreu em 1998, quando um escocês, Alistair Sinclair, morreu em circunstâncias misteriosas em um calabouço do aeroporto de Bem-Gurion, em Tel Aviv. Sua família denunciou à autoridades israelenses quando descobriu que faltavam o coração de seu filho e outros órgãos. À sua mãe, enviaram outro coração e outros órgãos, porém ela nunca acreditou que foram os de seu filho. Esta, portanto, não é a primeira vez que se denuncia sobre roubo de órgãos cometidos por Israel.
CMI
Também AQUI lê-se um artigo escrito por Kristoffer Larsson :
…. “Donald Boström realmente enfureceu os israelenses e seus aliados. Em 17 de agosto, o jornal de maior circulação da Suécia, Aftonbaldet, publicou o artigo intitulado “Nossos filhos saqueados por seus órgãos.”
…. O usual suspeito imediatamente gritou: “anti-semitismo”… inúmeros e-mail ameaçadores, incluindo ameaças de morte, foram enviados a Boström desde a publicação. O embaixador da Suécia em Israel, Elisabet Borsiin Bonnier, emitiu uma condenação do artigo “tão chocante e terrível para nós, suecos, como para os israelenses”, afirmou o embaixador em um comunicado à imprensa, que depois foi retirada, tendo atraído críticas por parte do ministério do Exterior da Suécia, bem como do governo.
…. O primeiro-ministro judeu, Benjamin Netanyahu, exigiu que o governo sueco retirasse o artigo, o que seria inconstitucional, na Suécia. O ministro do Exterior israelense, Avigdor Lieberman, chamou a atenção para ( você adivinhe!) O Holocausto: “É lamentável que o ministério do Exterior da Suécia não intervenha quando se trata de um libelo de sangue contra os judeus, que lembra um dos conduta da Suécia durante a II Guerra Mundial, quando também não interviu”
…. (Lieberman, ele mesmo um racista, acusado de colaboração sionista com os nazistas).
… Esta não é a primeira vez que Donald Boström publica suspeitas sobre israelenses roubar órgãos de palestinos. Um capítulo do livro “Inshallah: o conflito entre Israel e Palestina”, editado por Boström e publicado pela primeira vez em 2001, relata o fato…
… Boström decidiu lançar uma nova luz sobre o caso após a prisão em massa, em Nova Jersey, de pessoas envolvidas no comércio ilegal de órgãos, que incluiu um número surpreendentemente elevado de rabinos judeus.
… em uma visita à aldeia de Imatin, em 1992, Boström foi testemunha de como um jovem de 19 anos, Bilal Achmed Ghanan, foi raptado e morto, e cinco dias depois devolvido por judeus – seu corpo tinha sido cortado e aberto desde o abdômen até o queixo.
… Em 1992, 133 palestinos foram mortos pelo exército israelense, e uma das dezenas de vítimas palestinas foram cortadas. Os israelenses afirmam que eles são apenas a realização de exames pós-morte, a fim de concluir como eles morreram. Mas por que, Boström pergunta, seria necessário autópsias quando a causa da morte já é conhecida?! Afinal, como Bilal, foram mortos pelos israelenses. Então, por que exame pós-morte?
…. Comércio ilegal de órgãos é um negócio altamente lucrativo. Não é inconcebível que pessoas do ” exército mais moral do mundo”, como os israelenses gostam de chamar seu exército, estavam envolvidas com este tráfico.
… Donald Boström falou a cerca de 20 famílias palestinas que tiveram um ente querido que acabou nas mesmas condições que Bilal. Eles têm as mesmas suspeitas sobre o que aconteceu.
… A Dra. . Clare Brandabur, do Departamento de Cultura Americana e de Literatura na Universidade de Fatih, em Istambul, na Turquia, que viveu na Palestina, ao ler sobre o assunto, comentou: “Esta informação ressoa com os relatórios de palestinos em Gaza, que eu ouvi durante a primeira Intifada. Quando eu entrevistei o Dr. Haidar Abdul Shafi, chefe do Crescente Vermelho, em Gaza, eu mencionei a ele relatos de tiroteios de crianças palestinas em momentos em que não houve confrontos em curso – como o caso de um solitário menino de 6 anos de idade entrar em sua escola pela manhã com o seu livro dentro de um saco nas costas. Ele foi ferido, homens armados o raptaram em seguida e seu corpo foi devolvido alguns dias depois de ter sido submetido a uma “autópsia” no Hospital Abu Kabir.” Perguntei ao Dr. Shafi se já tinha considerado a possibilidade de que estas mortes estavam sendo feitas para transplante de órgãos (uma vez que na religião judaica não é permitido tomar órgãos de judeus para salvar a vida de um judeu, mas é permitido tirar órgãos de não-judeus para salvar vidas judias). O Dr. Shafi disse ue suspeitava de tais coisas, mas uma vez que não se tinha acesso aos registros de Abu Kabi, não havia nenhuma maneira de verificar essas suspeitas.
… Disse um jornalista palestino exilado em Viena e voluntáro para testemunhar em nome de Boström, se for necessário: “A questão de roubar os órgãos palestino é conhecida por todos na Palestina. Tendo trabalhado como jornalista sob a ocupação israelense durante 22 anos, ela já viu muita coisa”. e continua: “Eu, pessoalmente, foi testemunha de soldados israelenses seqüestrrar em veículos militares os corpos de palestinos mortos em salas de emergência dos hospitais. Em alguns casos, vi os soldados seguindo os palestinos até o cemitério, para roubar o corpo da família antes do enterro. Esta prática vil tornou-se tão generalizada d que muitas pessoas que muitas pessoas começaram a carregar os corpos dos seus mortos para ser enterrados em casa, no jardim, debaixo da casa ou debaixo de árvores, em vez de esperar a ambulância para levá-los ao hospital” – afirmou.
… Israel está usando seu artigo para levar uma mensagem: a Suécia é um país anti-semita.
… Quer discutir bom e velho anti-semitismo, em vez fr lutar contra o terrorismo de Estado e suas políticas de apartheid para com o povo palestino.
… No curto prazo, Israel tem sido capaz de desviar a atenção das questões mais sérias. No longo prazo, Israel está apenas fazendo inimigos.
Houve uma época em que todo o mundo ocidental apoiava Israel. Esses dias são idos.