Internacional
O massacre da Praça da Paz Celestial em Pequim completa 20 anos. O confronto entre população e o Exército foi manchete da imprensa estrangeira na época. A China mudou bastante nesse período. O país vive um ciclo de prosperidade econômica, com sucessivos índices de crescimento, acima de dois dígitos. No entanto, politicamente pouco mudou na terra dos criadores do papel, dos fogos de artifício, da bússola, da tecelagem de seda e de tantas invenções usadas hoje pelo Ocidente. Os chineses vivem um regime autoritário desde a revolução de 1949 que levou ao poder o ditador Mao Tse-tung.
Com suas liberdades cerceadas, qualquer forma de protesto era visto como um ato contra-revolucionário. No entanto, o ano de 1989 marca a tentativa de estudantes e trabalhadores de lutarem por reformas liberais. O governo chinês respondeu com o envio de tropas de províncias do interior do país para a capital chinesa e tanques de guerra tomaram as ruas de Pequim. "A reivindicação consistia na instalação de um sistema pluripartidário. Seria o fim da hegemonia do partido comunista", disse o professor de Relações Internacionais da Uerj Williams Gonçalves.
Em abril, os protestos começam de fato com estudantes acampados na praça da Paz Celestial, pedindo pequenas mudanças dentro da cúpula do Partido Comunista. Por outro lado, o governo chinês parecia dividido na modo de como tratar os manifestantes. De um lado conservadores temiam a queda do regime comunista como vinha acontecendo no Leste Europeu. Do outro, uma ala mais liberal do Partido tentava manter o diálogo com os manifestantes. "Mesmo na época de Mao Tse-tung, já havia divergências. Em 89, os liberais observavam com certa simpatia os protestos", afirmou o professor.
O secretário-geral do Partido Comunista Chinês na época Zhao Ziyang chegou a se encontrar com alguns estudantes. O comportamento do político não agradou a alta cúpula do PCC e Ziyang perdeu o cargo. O estopim dos protestos foi a morte de Hu Yaobang, ex-secretário geral do Partido Comunista chinês. Ele era considerado um liberal reformista, mas foi expulso pelo presidente Deng Xiaoping, em 1987. "Desde 1978, a China vivia uma série de aberturas. Os estudantes começaram a ver o que o seu país não tinha e isso atiçava a vontade de mudanças."
Com o maior número de estudantes nas ruas, o governo decretou lei marcial, sem surtir o efeito esperado. Após sete semanas de protestos pacíficos, vários chineses foram assassinados na capital. A estimativa do número de morts varia entre 300 a 4.000. Alguns manifestantes sumiram. No dia 5 de junho, quando as ruas pareciam mais calmas em Pequim, um homem solitário resolveu desafiar o Exército. Uma coluna de tanques avançava na avenida, quando o jovem interrompeu o avanço do comboio. A identidade dele nunca foi revelada. A imprensa estrangeira alega que ele foi morto pelas autoridades chinesas. A imagem é considerado como um das mais marcantes do século XX.
De acordo com o professor Williams Gonçalves, a China dificilmente terá uma manifestação parecida como a do massacre da Praça da Paz Celestial. "Aquela ânsia de ocidentalização já está saciada. A China hoje é uma potência". No país, não há comemoração, pelo contrário, as autoridades não têm interesse em lembrar do episódio. Este ano, o governo aumentou a presença policial na Praça da Paz Celestial e alguns sites foram bloqueados. Falar sobre o assunto ainda é um tabu.
Um comentário:
Muito interessante (e importante) isso.
Oi, parabéns pelo blog!
Vou acompanhá-la.
Inté!!!
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